RIO - Nos bailes de Belém dos anos 1980, o adolescente Chimbinha tocava - em meio a gêneros como merengue, zouk, Jovem Guarda e o romantismo chacundum de Reginaldo Rossi e Amado Batista - muita música da nascente geração do rock brasileiro, de artistas como Paralamas do Sucesso e Legião Urbana. Agora, o guitarrista da Banda Calypso se prepara para entrar em estúdio e gravar uma participação no novo disco de Dado Villa-Lobos, da Legião, numa faixa em que os paralamas Bi Ribeiro e João Barone também tocam. Mas essa é mais que uma simples história do fã que alcançou o sonho de tocar com seus ídolos. Primeiro, porque Chimbinha não é um artista em ascensão, e sim um dos maiores vendedores de discos da história da música brasileira. Em segundo lugar, o encontro, assim como a sua participação no CD "Bailão do Ruivão", de Nando Reis (de outubro de 2010), parece consolidar o guitarrista - elogiado há muito tempo por colegas do circuito rock-MPB, mas de longe - como um músico, enfim, aceito no clube da música popular-urbana--de-classe-média (versus o universo ultrapopular e periférico da Calypso).
- Assisti ao show que a banda Calypso fez no Canecão em 2008 e fui ao camarim, foi superbacana. Achei incrível o som, altamente melódico, profissional, popular e pop. E ele veio me abraçar entusiasmado, muito carinhoso, disse que adorava a Legião - conta Dado. - Conversamos basicamente sobre música. O estilo dele, guitarrada, carimbó, é um lance especial, superbrasileiro. Mas, ao mesmo tempo em que tem essa força do regional, tem um lado meio Roy Orbison, esse pop-rock dos anos 50 e 60. Fiz uma música, "Lucidez", que se encaixa perfeitamente no som dele, com a cozinha dos Paralamas, uma levada mais de praia.
A percepção de Dado combina com o relato que Chimbinha faz de sua formação no Pará:
- Na infância, a gente tinha um rádio daqueles que pegam estações de fora do país. Como estamos perto do Caribe, ouvia muito som de lá. Além de ritmos como merengue, artistas africanos que até hoje não sei o nome... - lembra o guitarrista. - Do pop-rock, adorava Beatles, Creedence, The Ventures e Roy Orbison, com aquela guitarra fazendo uns arpejos o tempo todo. E tinha a guitarrada do Mestre Vieira, Aldo Sena. E mais Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, The Pops. Acho que quase tudo aquilo está na minha guitarra, do meu jeito. Eu tentava tirar, ficava meio errado, as pessoas falavam: "Está legal pra caramba." E eu dizia: "Mas não é bem isso que eles tocam." Porque as bandas tinham duas, três guitarras e eu não sabia, e tentava soar igual. Ia tocando e misturando as várias guitarras.
Chimbinha não é um artista em ascensão, e sim um dos maiores vendedores de discos da história da música brasileira
CD de guitarrada a caminho
O caminho que o levou do Pará aos CDs de Nando e Dado foi longo. Hermano Vianna foi o primeiro a dizer, categoricamente, há uma década, que Chimbinha era um dos melhores guitarristas do Brasil. O nome do artista ficou mais conhecido quando a Banda Calypso (com seu modelo de negócios que, se aproveitando de forma original das facilidades da tecnologia digital e do circuito da pirataria, se tornou um fenômeno de vendas) chamou a atenção das capitais "do Sul". Enquanto seu trabalho na Calypso com a cantora Joelma (sua mulher) era olhado com um misto de desprezo e peça de humor involuntário pelo público dessas capitais, músicos e produtores começaram a prestar atenção no talento de Chimbinha. Em 2008, ele foi escolhido - pela votação de seus colegas artistas - o guitarrista da Banda dos Sonhos na entrega do prêmio VMB, da MTV.
- Fiquei surpreso, claro. Votei no Andreas Kisser.
A formação dos sonhos tinha ainda os vocais de Marcelo D2 e, novamente, a cozinha dos Paralamas - Barone na bateria e Bi no baixo. A banda carioca e a Calypso tiveram outro encontro na MTV, dentro do programa "Estúdio Coca-Cola Zero".
- Foi muito bom, porque o som dos Paralamas também se aproxima do Caribe, da África - conta o artista, de 37 anos.
Por e-mail, Barone conta que a parceria deu frutos:
- Incluímos no nosso show uma versão de "Uma brasileira" que tocamos nesse programa, com uma pegada brega. Ficou demais! Chimbinha foi o culpado! - brinca o baterista, acusando o preconceito contra o gênero e, por outro lado, sua atual valorização. - Hoje Arnaldo Antunes e Otto reapresentam o brega para os mais "exigentes".
Chimbinha trabalha em outro projeto que também pode agradar a essa turma. Em maio, ele mixa no Rio, no estúdio Toca do Bandido, um CD de guitarrada, com participações de músicos como Armandinho, Robertinho do Recife e Pepeu Gomes:
- Vou fazer o CD com som carioca - afirma, tocando, de brincadeira, no movimento natural que tem feito da periferia para o centro.
Fonte: Globo.com
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