• Já não me vejo sem Banda Calypso

    Artista tem que bancar presentes a ouvintes, conta Chimbinha


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    Dayane Souza

    Os maiores vendedores de disco do Brasil. É assim que Chimbinha tem orgulho de falar da Banda Calypso, grupo liderado por ele e a esposa, Joelma. Nos tempos em que clipes de Lady Gaga batem recordes - mas só na internet - a dupla paraense ainda grava seus CDs do mesmo jeito que na época em que eram artistas independentes. Nas lojas, eles custam exatos R$ 9,90 e chegam a centenas de milhares de vendas.

    Terra Magazine conversou com Chimbinha para entender a "fórmula Calypso" de sucesso comercial. O músico é o principal responsável pelos negócios da banda. Os números são impressionantes: mais de 10 milhões de cópias vendidas em toda a carreira. O maior recorde veio com o hit A Lua Me Traiu (2004), com 3 milhões de vendas. O álbum mais novo, em comemoração aos dez anos da banda já é disco de ouro e vendeu mais de 40 mil exemplares.

    O "produtor, artista e intérprete", como ele mesmo se define, conta que ainda hoje assume a maior parte dos custos de produção dos CDs e a gravadora só distribui. A estratégia típica de um músico independente garante os preços baixos.

    Só isso, porém, não garantiria as vendas. Chimbinha revela como emplacar as canções nas rádios. "Artista que está começando tem que abrir o bolso", afirma. Ele não acredita que se trate do famoso "jabá", mas revela que os iniciantes acabam bancando promoções nas rádios para premiar ouvintes.

    Atualmente, o Ministério da Cultura propõe uma mudança na lei de direitos autorais que impediria o jabá e tenta barrar a reprodução ilegal das músicas na internet, por exemplo. Com o sucesso comercial garantido, Chimbinha não critica a ordem atual das coisas. Apenas apela para que seu público não abuse da rede. "Graças a Deus a gente faz show e ganha o nosso dinheiro. Eu fico mais triste pelos compositores que não recebem esses direitos autorais deles."

    Leia a ntrevista na íntegra.

    A Banda Calypso é uma das recordistas de vendas de CDs e DVDs enquanto tem muito artista vendendo menos por conta da pirataria e da internet. Isso, para vocês, foi uma estratégia pensada?
    Quando nós começamos, realmente o CD era bastante caro e vendia bastante disco porque não existia tanta pirataria. Existia a pirataria, mas a internet estava entrando no Brasil. O CD de uma gravadora saia por R$ 20 e nós da Banda Calypso vendíamos pela metade do preço, a R$ 10. E era mais barato para a gente vender porque nós não tínhamos gravadoras para lançar o nosso CD. Então, por nós sermos independentes, ficou muito mais barata a produção do disco. Eu mesmo fazia os arranjos e gravava. A Joelma cantava. A gente não tinha que pagar direito autoral para artista porque os artistas éramos nós. Não tínhamos que pagar um arranjador porque a gente mesmo arranjava. A gente não pagava um músico porque a gente mesmo gravava. Não pagava divulgador porque a gente mesmo divulgava. Até hoje o nosso preço é esse, chega a R$ 9,99 nas lojas. Ficou muito mais em conta.

    O processo normal nas gravadoras é mais complicado?
    A gravadora tem que pagar uma pessoa para escolher o repertório, uma pessoa para escolher o arranjo, paga o direito autoral do artista, paga divulgadores no Brasil todo, tem os executivos que trabalham lá... Então, a gravadora tem uma série de coisas que tem que pagar. A Banda Calypso, não. Eu mesmo sou o produtor, o artista, o intérprete. Nós fazemos tudo. Aí também é uma maneira de combater a pirataria que está entrando no mercado.

    Mas hoje mudou um pouco, não? Vocês já estão com uma gravadora?
    Hoje nós somos distribuídos pela Som Livre. Em vez de a Som Livre bancar todo o disco para a gente, nós bancamos todo o nosso disco e damos só para eles distribuírem. Então, o disco é nosso. Eles ganham uma porcentagem para vender o nosso disco.

    Você acha que os outros artistas deveriam usar a sua ideia?
    Eu acho que os artistas que não estão com uma gravadora firmada têm que fazer essa parceria porque ela é muito boa. Mas eles têm que vender também. Não é só deixar a Som Livre, a gente tem que trabalhar por fora, a gente tem que fazer promoções em rádios, sair divulgando o disco. Assim, o povo acaba conhecendo a sua música e comprando. E o principal é que a música tem que ser boa, a música tem que estar na boca do povo. Se a música não for boa, pode fazer o que quiser que não vende. O que vende é música boa, a música que está na boca do povo.

    Existe uma proposta de mudar a lei dos direitos autorais para impedir que as rádios cobrem jabá para tocar músicas. O que você acha disso? Vocês tinham que pagar jabá nessa fase que divulgavam tudo sozinhos?
    As rádios não cobram jabá no Brasil, não. Quem falou isso está muito equivocado. Nenhuma rádio no Brasil cobra jabá. E eu trabalho com quase todas as rádios do Brasil, uma média de cinco mil rádios. O que a rádio cobra é o normal que toda rádio tem que cobrar, porque as rádios têm os seus funcionários e têm que dar brinde para os seus ouvintes para poder ter audiência. Então, por exemplo, se eu tenho uma rádio, eu preciso ter audiência. Eu chego para a Banda Calypso e digo "eu preciso que você mande fazer para mim camisas, CDs ou compre um eletrodomésticos e faça uma promoção aqui na rádio". Isso é o que custa dinheiro. Quando o cara não tem tempo, dá o dinheiro que a rádio compra. Mas a rádio não fica com o dinheiro.

    Nem no começo da sua carreira? Não foi difícil emplacar as músicas no rádio?
    Não. A rádio só toca um artista que faz uma promoção. Quando o artista está começando, você faz uma promoção maior. Tem artista que dá carro, moto. Já o artista que já é conhecido não precisa disso porque a música dele já é sucesso. O artista que está começando tem que abrir o bolso para fazer promoção.

    Você se incomoda de ver que as suas músicas estão na internet e as pessoas não pagam nada para isso?
    Olha, isso a gente fica triste porque não é só por nós. Graças a Deus a gente faz show e ganha o nosso dinheiro. Eu fico mais triste pelos compositores que não recebem esses direitos autorais deles. Porque os compositores têm família e essas pessoas que baixam na internet só pensam nelas mesmas. Elas ajudam até o artista porque elas ouvem a música e o artista vai lá e faz o show. Mas não ajudam o compositor, que é a cabeça que pensou para fazer aquela música.

    Hoje, tem muita gente na música que te elogia por ter sido um dos precursores desse ritmo que hoje é conhecido como calipso. Você se considera o inventor?
    Nós não somos os inventores. Esse ritmo já existia, ele estava esquecido. Nós apenas modificamos um pouco ele, mas a essência desse ritmo já existia. Nós aceleramos um pouco, criamos letras mais elaboradas. Uma mistura com outros ritmos que nós pegamos e começamos a temperar, mas o mérito não é só meu não. Esse ritmo vem da Guiana Francesa, vem do Caribe, do Texas, nos Estados Unidos. Houve muita mudança até chegar no Brasil e nós aqui lançamos o calipso.

    O tecnobrega, que também é do Pará, estourou e começou a tocar bastante em outros Estados depois que vocês fizeram sucesso. O que você acha disso? Você abriu as portas?
    Nós não tocamos tecnobrega. Antes de tocarem o tecnobrega, nós tocamos a nossa música, que é o Calypso. É uma mistura, a gente toca lambada, merengue, zouk, forró. Então, o tecnobrega nem passa perto do nosso ritmo. Nós não temos nada de eletrônico. Não usamos Dj. Tecnobrega é uma música que é feita na periferia de Belém, os compositores fazem as músicas para os Djs. Eles não tocam músicas de outros artistas, só se promovem. É uma música que toca só para eles e não tem nada a ver com a gente.

    Você não gosta, então, disso ter virado moda?
    Não, pode ter virado. Eu acho legal porque tem que ter outros estilos, outros ritmos. Eu não gosto é de ser comparado ao tecnobrega.

    Você falou dessa mistura de vários ritmos do calipso. Você conhecia todos? Como foi que você começou a se envolver com essa música?
    Eu já estou há mais de 20 anos fazendo esse ritmo de música. Lá no Pará, quando a gente nasce já começa a ouvir esse estilo de música. Então já vem da infância, a gente já traz isso. E de um tempo para cá, de uns quatro anos para cá, também surgiu esse movimento das aparelhagens, do tecnobrega. Eles fazem a festa deles, é que nem o funk no Rio de Janeiro.

    Matéria publicada dia 02/09 fonte: Terra


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