Joelma Mendes e Cledivan Almeida Farias terão sua vida levada para o cinema. Ambos nasceram no Pará, em 1974. Ela em Almerim, ele em Oieiras. Os dois são ninguém menos que a (poderosa) dupla Joelma e Chimbinha, a alma (brega) da banda Calypso, que começou a carreira no Norte e Nordeste, em 1999, e se tornou conhecida no resto do país nos anos 2000. Só para se ter uma ideia, o DVD de 10 anos de carreira do grupo vendeu 70 mil exemplares e a dupla soma mais 10 milhões de discos vendidos. Já fizeram incursões pelos Estados Unidos, Europa e Angola e hoje são até considerados cult.
A banda tocou ao lado do Paralamas do Sucesso. É elogiada por músicos como Dado Villa-Lobos (ex-Legião Urbana), Bi Ribeiro e João Barone (ambos Paralamas do Sucesso). Recentemente, regravou o sucesso de Leandro e Leonardo Entre tapas e beijos para a série da Rede Globo, e foi fotografada, em grande estilo, com as protagonistas Fernanda Torres e Andréa Beltrão. E a guitarra de Chimbinha é incensada por ninguém menos que antropólogo Hermano Vianna (leia texto no www.overmundo.com.br).
O guitarrista paraense chamou a atenção de Vianna em 1997, quando ele fazia pesquisas para o projeto Músicas do Brasil, no qual inclui texto em que afirma, entre outras coisas, ter se encantado, no brega paraense “com a sonoridade característica da guitarra”. Em todas as músicas, ele percebeu “um dedilhado barroco, cheio de floreios, mas muito claro e seguro.” Vianna anotou os nomes de alguns dos artistas para procurar os CDs. E se surpreendeu quando descobriu, em todos, o crédito para o mesmo guitarrista: Chimbinha.
O diretor Caco Pereira de Souza (de 400 contra 1) só conhecia o Calypso pela mídia e nunca havia parado para prestar a atenção no som deles. Passou um tempo no Recife, quando gravou o show deles para um filme institucional sobre festas juninas. Impressionou-se com a interação dos dois com o público (“de quase 50 mil pessoas”). “Isso não é qualquer coisa, e tem também a qualidade musical de Chimbinha. Ele toca bem para caramba. Descobri depois que é considerado um dos melhores guitarristas brasileiros.” O fato de ter visto o show e tido algumas informações fez com que Caco Pereira se interessasse pela vida da banda. “O mais importante foi que percebi que aquele cara faz aquilo porque gosta, não é um caça-níquel.”
Sem apoio Em pesquisas sobre a história do Calypso, o diretor soube que Joelma e Chimbinha começaram sozinhos. “Fizeram o primeiro CD com dinheiro próprio e a ajuda de amigos. Nenhuma gravadora se interessou por eles, assim como as rádios não tocavam as músicas deles, que foram ‘descobertos’ pelas emissoras comunitárias. Usaram muito aquele tipo de divulgação alternativa, comum no interior, de colocar o som nos autofalantes no meio da rua. Começaram a carreira assim, inventaram um jeito próprio de se vender e se perpetuar no show business, sem apoio das grandes gravadoras. Fizeram sucesso no Brasil inteiro e começaram a ser convidados para programas de televisão. Rádios passaram a tocar as músicas deles.”
No ano retrasado, Caco Pereira ficou durante seis meses no Pará e se aproximou deles, por meio de Teo Cruz Neto, que trabalha com marketing. “Eram duas pessoas que aparentemente não tinham a menor chance de dar certo. Quero mostrar como se encontraram, como foi a infância deles, as dificuldades.” Então, o que podemos ter é algo semelhante a 2 filhos de Francisco, de Breno Silveira, sobre a vida de Zezé di Carmargo e Luciano? “Se você pensar, a história é um pouco similar sim, tem requintes dramáticos se quisermos usar. Mas a pegada vai ser um pouco diferente, vamos mostrar que eles conseguem se virar de outra forma. Vamos deixar o filme mais colorido, com esse pulsar mais tropical. Só que, claro, a parte dura também vai aparecer”, afirma.
Os atores Burburinhos em torno do elenco já colocaram a atriz Mariana Ximenez e o ator Daniel de Oliveira nos papéis centrais. Caco Pereira diz que não é bem assim. “Daniel já fez Cazuza e ele fazer Chimbinha não seria bom para nós. Iam pensar: ‘O cara está querendo surfar no sucesso do filme de Daniel’. Apesar de adorá-lo e saber que ele faria de maneira sensacional, penso que tem muita gente bacana para o papel.” Nada está definido. “Para decidir, precisamos entender um pouco mais sobre o período da vida que vamos filmar, eles crianças, adolescentes e depois maduros. Vários fatores ainda terão que ser pensados antes de decidirmos.”
Sobre Mariana Ximenez, ele argumenta: “Não dissemos nada disso. As pessoas estão falando. Disseram o nome dela, o de Leona Cavali, que, por sinal, se parece muito com Joelma. E ainda o de Ludmila Dayer. Por enquanto, tudo é pura especulação.” Feliz com a decisão de filmar a história da dupla, Caco Pereira diz que foi adicionado ao Facebook dos fãs do Calypso. “Eles dão muitas sugestões, muitos querem participar do filme, trabalhar conosco, fazer testes como dançarinos e atores. É muito legal ver que existe uma paixão mesmo pela dupla, o que comprova que precisamos realmente fazer o filme.”
Terminadas as pesquisas (a pesquisadora é Irina Neves, do Rio, a produção da Black Maria, de 2 coelhos), será definido quem vai fazer o roteiro. As filmagens estão previstas para janeiro de 2013. Antes disso, Caco Pereira vai filmar a história de Gabriela Leite, da ONG Davida e da Daspu, que já está fechada com a Playarte. Agora, pergunte ao diretor que tipo de música ele gosta e a resposta será: “Música boa.” Mas de quem, de que tipo? “Popular, muito jazz. Tocava piano, parei porque desencanei (risos). Não tenho preconceito, ouço do punk rock cigano à música erudita”. E agora, certamente, muito calipso.
Fonte: Diário de Pernambuco
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